sábado, 14 de fevereiro de 2009

Gonçalves da Costa

Comentário

O poeta intitulou “Harpa sem Cordas” varias páginas de muita inspiração e valor intelectual. Com o sub - título “TABOR” é a página que estamos inserindo na coluna de hoje.
TABOR é uma montanha da Síria, na Palestina Setentrional. É lá que o Novo Testamento coloca a Transfiguração de Cristo.
Saladino, referido pelo poeta, sultão do Egito e da Síria, o herói muçulmano da terceira Cruzada (1137-1193).
Santo Graal, nas crenças da Idade-Média, vaso de esmeralda que teria servido a Jesus Cristo, para a ceia com os seus discípulos, e em que José de Arimatéia teria recolhido o sangue que o centurião fez correr do flanco de Jesus sacrificado. Wagner fez do Graal o assunto de sua ópera Parsifal.

José Geraldo Leal
Rua Rufino Rocha -64
35350 000 - Raul Soares (MG)

TABOR

O estranho Leproso, arquejante, extraordinário, atingiu o alto da colina. Sangue nos pés disformes, sangue nas mãos lanhadas, sangue na face ferida. Sob as vestes ensebadas e rotas, o corpo estrelado de chagas. A vista, mesmo turbada, embebeu-se na grande paisagem . . .“Estarei no céu? Estarei mesmo na terra ? “ - murmurou, e tentou erguer um cântico. A carne se tornou sobre - humana, e dos seus lábios começou a elevar-se o cântico do espírito . . . Das chagas do seu peito , então, se levantou uma flor majestosa, que lhe colocou sobre a cabeça um céu de pétalas. Ao longe do imenso vale se desenharam caminhos, que, vindo das distâncias, morriam junto ao sangue dos seus pés.
Caminhos de músicas, estradas de flores, roteiros resplandecentes. . .Ao longo deles perpassavam belezas virgens, de vestes alvas - rainhas egressas de outros reinos . . . Os olhos do estranho Leproso se afundaram em maravilhas. Descerem aves brancas, trazendo no bico um misterioso ungüento para as chagas vivas, as quais, sendo tocadas, refulgiam. Como se mostravam largos os horizonte, abrindo-se num convite para os grandes vôos ! Além, muito além, as miragens eram caravanas que se arrastavam, rumo à Meca desconhecida, Os cavalheiros do Santo Graal, os guerreiros de Salladino, passavam cintilando nas planícies eternas, rápidos, perseguindo relâmpagos. . .
Todas as visões consoladoras, inefáveis, que haviam povoado as suas noites de solidão e de tormento, ressurgiam agora, em anseios de definição, como criaturas talhadas em pedra, como mármores estuantes de vida. Maravilhas se desandavam ante os seus olhos, deixando rolar as vestes sobre os espinhos e os abismos.
Os olhos do grande Leproso se encheram então de um brilho novo, as suas chagas se transformaram em rosas de luz e ele se cobriu todo de uma beleza inenarrável. Eis que surge à sua frente, vestida de branco, asas nos ombros, a Esperada . . . Defrontam-se dois sorrisos. As mãos rútilas se estendem . . . Dois vultos se tocam e, ante os espaços atônitos, vão eles
entrelaçados - clarões de exércitos em marcha, dois hinos de glória, duas alvoradas angélicas.

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