sexta-feira, 21 de novembro de 2008

GONÇALVES DA COSTA

COMENTÁRIO

José Eulálio Gonçalves da Costa, ou simplesmente Gonçalves da Costa, foi um poeta – escritor de muita sensibilidade e inspiração.
Deixou muita coisa boa publicada em jornais que não mais existem e cujos arquivos não foram preservados pelos órgãos culturais das cidades em que circularam.
O que vamos publicar nesta série colhemos em um jornal que circulou em Raul Soares na década de 50 - O IMPARCIAL. Ousamos fazê-lo, em que pese a falta de sensibilidade e reconhecimento de muitos aos acontecimentos e pessoas de um passado recente. É uma forma, também, de homenagear a memória do Dr. Hugo de Aquino Leão, um intelectual consumado, e ao Sr. Alcides Toledo da Silva, responsáveis pelo “O IMPARCIAL”.

José Geraldo Leal
Rua Rufino Rocha – 64
35350 000 – Raul Soares (MG)


A clareira da Floresta

(Para o poeta Edward Leão)

A noite arrasta o Poeta. O luar, descendo, é o mesmo fluido imponderável que vem vertendo o delírio nas almas eleitas, através dos séculos. Os ventos e as nuvens, agora, se acham presos na caverna dos grifos de asa gelada.
O Poeta sai de casa. Deixa para trás a cidade, de onde se elevam rezas e blasfêmias. Pela estrada encontra mercadores tangendo bestas. Encontra homens discutindo. Encontra mulheres desacompanhadas, tresandando perfumes infernais. Todos falam, vendo-o passar. É algum louco que vai procurar sepentes na floresta - dizem uns. - É um vagabundo vulgar, que anda à procura de albergue para estender os ossos - dizem outros. Alguns o olham assustados, apontando-o como o salteador Procusto Segundo, temido na região, enquanto as mulheres lhe estendem os braços longos como cobras . . .
E o Poeta segue. Para trás ficam almas de luz e almas de sombra. Ficam cérebros de metal. Ficam mãos trêmulas de ira. Ficam bonecos de lama, envoltos em ouropéis, atraindo o olhar das crianças.
Para o Poeta - ele o sabe - existe uma clareira na floresta , onde, ao luar, acompanhadas pelos instrumentos mágicos dos gnomos, as fadas dansam e entoam cânticos maravilhosos. E ele procura a clareira, onde irá encontrar todas aquelas entidades redivivas, que o tempo inutilmente vem procurando afogar nos seus abismos. Branca de Neve e os Sete Anões lá estarão, hão de cantar e dansar também, com as fadas, suas amiguinhas, ante os olhos deslumbrados do Poeta.
Todos estarão à sua espera. As rosas com certeza foram convidadas para perfumar o ambiente, e também cantarão, pois cada corola é uma boca divina mergulhada em músicas . . . O Poeta segue, resplandescente, cheio de fé. Agora, a asa de uma falena invisível, num sussuro, lhe diz que todos já se acham impacientes, e que os instrumentos, mesmo não tangidos, desferem harmonias. . . O Poeta então se sente leve, tem a impressão de que os seus pés não mais tocam a terra. Ele será como um convidado de honra entre eles, será recebido como uma divindade diante das árvores atônitas, e todos o reconhecerão pelo pensamento . . . O seu íntimo se abrirá para eles . . . Todos o reconhecerão, porque, em pensamento, O Poeta já percorreu o reino das sombras, já rolou entre os ventos tresloucados, já esquadrinhou todas as paragens por onde se escondem todos aqueles seres encantados. As fadas o embriagarão com aromas indefiníveis, dar-lhe-ão a beber o filtro colhido na confluência dos sete rios, depois lhe estenderão os seus livrinhos feitos de pétalas, para que ele escreva poemas . . .
Depois de encharcados pela atmosfera de delícias virgens, sairão pelas vias lácteas da floresta, irão ao palácio da Gata Borralheira, passarão pelos bosques das ninfas, e sorrirão, quando o gnomo afoito tropeçar na bota de sete léguas . . .
Então, cansados da viagem, dançarão as margens do rio, as margens do grande rio.
As fadas e os gnomos, Branca de Neve e os Anões, todos voltarão, enquanto as náiades, elevando-se das águas, rodearão o Poeta, formando uma corola imensa. E, entoando um hino mágico, o levarão sobre as águas, sobre as verdes águas . . .

. . .

O Poeta, como que andando sobre as nuvens, sob o luar, num delírio divino, segue, buscando a clareira da sua floresta de sonho.

domingo, 16 de novembro de 2008

José Eulálio Gonçalves da Costa

NOTAS BIOGRÁFICAS

JOSÉ EULÁLIO GONÇALVES DA COSTA, OU SIMPLESMENTE GONÇALVES DA COSTA - O POETA - CHEGOU A RAUL SOARES PROCEDENTE DE TARUMIRIM, CIDADE SITUADA NA REGIÃO INHAPIM/ITANHOMÍ.
INTEGROU-SE DE TAL FORMA AOS COSTUMES E HÁBITOS DE NOSSA TERRA QUE SE TORNOU UM VERDADEIRO RAUL - SOARENSE.
SUA APARÊNCIA FÍSICA E MODOS TINHAM ALGO QUE NOS LEMBRAVA CARLOS DRUMOND DE ANDRADE, O POETA DE ITABIRA.
TACITURNO, DE TEMPERAMENTO FECHADO, DEIXAVA TRANSPARECER AUSTERIDADE, SEVERIDADE, EGOCENTRISMO E TIMIDEZ.
HABITUALMENTE USAVA BONÉ OU CHAPEU PARA COBRIR A CALVA ACENTUADA QUE LHE ERA INCÔMODA E CAUSA DE DESCONFORTO.
DE CERTA FEITA, EM UM CIRCO, REAGIU ENERGICAMENTE, QUASE CHEGANDO ÀS VIAS DE FATO, ANTE UMA ALUSÃO À SUA CALVÍCIE, FEITA POR UM ARTISTA CIRCENSE, EM UMA BRINCADEIRA DESCUIDADA E SEM INTENÇÃO PREMEDITADA DE OFENDÊ-LO OU RIDICULARIZÁ-LO.
O INOCENTE PALHAÇO, EVIDENTEMENTE NÃO CONHECIA O POETA E SUA OGERIZA E COMPLEXO PELAS DEFICIÊNCIAS CAPILARES DE QUE ERA VÍTIMA POR QUESTÕES GENÉTICAS OU CAUSAS OUTRAS QUE SERIA OCIOSO ENUMERAR OU PERQUERIR.
O POETA DEIXOU O CIRCO COM IMPRECAÇÕES E MAL SATISFEITO COM O OCORRIDO EM UM MOMENTO QUE PROCURAVA LAZER E DIVERSÃO.
À EXEMPLO DE MACHADO DE ASSIS,CARLOS DRUMOND DE ANDRADE, EDWARD LEÃO E TANTOS OUTROS INTELECTUAIS DE ESCOL, GONÇALVES DA COSTA FOI FUNCIONARIO PÚBLICO, ESCRIVÃO DO CARTÓRIO DO CRIME DA COMARCA DE RAUL SOARES, CARGO QUE EXERCEU COM MUITA COMPETÊNCIA E INTEGRIDADE.
DEIXOU OBRA POÉTICA FARTA, PORÉM ESPARSA EM VÁRIAS PUBLICAÇÕES EM MINAS GERAIS.
OS SEUS TEXTOS SÃO DE MUITA INSPIRAÇÃO, LINGUAGEM ESCORREITA E RIQUEZA DE IMAGENS.
FOI POETA COMPLETO, EM PROSA E VERSO, INFLUENCIADO PELA ESCOLA SIMBOLISTA.
NAS DÉCADAS DE 1950 E 1960 ESTEVE PRESENTE COM MUITA REGULARIDADE NAS PÁGINAS DOS JORNAIS “O IMPARCIAL”, DE RAUL SOARES, E “JORNAL DO POVO”, DE PONTE NOVA .
PUBLICOU EM PROSA:- PÁGINA DE SAUDADE (HOMENAGEM AO PROFESSOR EDWARD LEÃO POR OCASIÃO DE SEU FALECIMENTO), HARPA SEM CORDAS, ILUMINADO, SÍTIO DE FÊNIX, PINCELADAS QUASE AUTOBIOGRÁFICAS DE UM DESCONHECIDO, PASSEIO DE OLHOS FECHADOS, TABOR, ZEBEDEU, PÁGINA ÍNTIMA, TEMA, EXERCÍCIO Nº 2, A CLAREIRA DA FLORESTA (PARA O POETA EDWARD LEÃO). EM VERSOS:- ELES ESTÃO NO FUTURO, SONETO, CÂNTICO, REFLEXO, DEPÓSITO, TRÍDUO, FUGA, HÚMUS, REVISÃO, PROCURA, VIAGEM, ACRÓSTICO, ESPARSAS, BAILARINA, ESCUTA, CANÇÃO LEVE E MUITOS OUTROS.

sábado, 15 de novembro de 2008

Gonçalves da Costa

APRESENTAÇÃO

Este livro resgata a memória do poeta Gonçalves da Costa, um dos maiores poetas mineiros do século XX.
A maioria dos textos foram produzidos durante o tempo que o poeta residiu em Raul Soares, na Rua Camilo de Moura (atual Rua Dr. Gerardo Grossi) e foram publicados nos jornais O IMPARCIAL, de Raul Soares e JORNAL DO POVO, de Ponte Nova (MG).
Gonçalves da Costa foi Escrivão do Cartório do Crime da Comarca de Raul Soares.
Nos idos de 50, o fenômeno de sensibilidade poética “Gonçalves da Costa” mereceu do colunista Adamastor, uma análise mui competente e justa, na coluna “Unhas de Gato”, publicada semanalmente no jornal O IMPARCIAL: “Sua poesia nasce como o orvalho, suave, sem alardes, porem, sempre se renovando, apresentando em cada verso um espetáculo diferente, inédito, maravilhoso. Na prosa, um puríssimo vernáculo alia-se à espantosa facilidade do mestre em narrar as suas aventuras que, quase sempre, parecem absurdas. Podem crer, leitores, que, em certos dias, nossos cérebros não nos pertencem e aquilo que Gonçalves da Costa nos conta ACONTECE verdadeiramente, não só a ele, porem, a todos nós, no mundo diáfano, mas real da fantasia.”

José Geraldo Leal
Rua Rufino Rocha - 64
35350 - 000 - Raul Soares (MG)