sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Tributo á memória do mestre Edward Leão

Comentário

Homo é o nome genérico da espécie humana e das espécies fósseis mais próximas. Três as espécies sucessivas: Homo habilis, Homo erectus e a atual, Homo Sapiens. O mestre glosou o Homo Sapiens num inspirado soneto que mostramos a seguir.
Metazoário, referido pelo poeta, é o animal, que, segundo teorias de Ernesto Haeckel, naturalista alemão, possui orgãos celulares diferenciais.

JGL


HOMO SAPIENS

Homem ! Vaidoso que és, simples metazoário
dotado de razão. Teu antropocentrismo
vive dentro de ti, como um microorganismo
cantando o teu poder imenso, extraordinário . . .

Microscópico deus, pigmeu no grande abismo
- Filho da poeira astral ou de um cosmozoário -
descendente, talvez de humílimo espongiário
ou flor da terra-mãe em santo paroxismo.

És grande, és forte, és sábio, és quase onipotente,
és uma multidão de vidas celulares
em perfeito equilíbrio e em função permanente.

És uma força em marcha, um poder intranqüilo
a querer desvendar os mundos estelares
em busca de outro irmão, na ânsia de destruí-lo.

-x-

Em “Velho Poeta” o Mestre está nostálgico e melancólico.


VELHO POETA

Alma de luz banhada intensamente,
boiando à flor das águas do destino,
o velho poeta é quase um inocente
na ingenuidade eterna de menino.

E novo Homero ancião, cego e divino,
tange as cordas da lira e a toda gente
leva o clamor de um canto peregrino
- velha cigarra sempre adolescente -

na sucessão de albores e negrumes,
de sombras e auroras boreais,
seu coração é um frasco de perfumes,

sempre aberto a espalhar na imensidade
os aromas eternos, imortais,
- velho incensório azul da Humanidade -

sábado, 23 de agosto de 2008

Tributo á memória do mestre Edward Leão

Vivere est cogitare ( viver é pensar )
(Cícero (filosofo, estadista e orador romano)

Comentário

Um velho barco . . . as águas de um rio (talvez um dos nossos: o Matipó ou o Santana) , compõem o quadro delineado pelo poeta na criação de “O BARCO”.
E na fantasia do poeta o barco tem uma quase-vida, singrando a água “em coleios de fauno voluptuoso”, beijando-a e provocando um frêmito nervoso e arrepios na sua “epiderme alvinitente”. Parece feliz, sem dor, sem mágoa, sobre um destino plácido e sereno. E o remador, impregnado de uma sensação estranha, vê o céu refletido na água e dentro de si o paraíso.

JGL


O BARCO


Velho cisne, sonâmbulo, dormente,
embalado, num sonho delicioso,
lá vai o barco, vagarosamente,
em coleios de fauno voluptuoso.

E beija e lambe o dorso reluzente
da água do rio. Um frêmito nervoso
Arrepia a epiderme alvinitente
do rio langue em êxtase amoroso.

E o barco tosco, rústico, pequeno,
parece um ser feliz, sem dor, sem mágoa,
sobre um destino plácido e sereno.

E o remador lá vai remando a esmo,
tendo a visão do céu lá dentro da água
e o paraíso dentro de si mesmo.

domingo, 17 de agosto de 2008

Tributo á memória do mestre Edward Leão

Comentário

Nos versos de “Jogo de Cartas” o mestre descreve as emoções que as cartas, tal qual um ser humano e vivo transmite ao jogador; a magia dos seus símbolos vermelhos e pretos; e as mágicas e ilusões do jogo que fundem trevas e fabricam luzes.


JOGO DE CARTAS


Quando a carta palpita entre os seus dedos,
no esfuzilar do lance decisivo,
dá-lhe a impressão de um ser humano e vivo,
a revelar seus íntimos segredos . . .

Homem-menino, em meio de brinquedos,
É um ser humano, simples, afetivo,
que, de repente, ríspido, impulsivo,
penetra infernos, rompe abismos tredos . . .

Vermelho e negro : fogo, incêndio e morte . . .
que símbolos estranhos os da sorte !
- losangos, corações e negras cruzes . . .

No jogo há mágicas de ilusionistas,
milagres de faquires e alquimistas
que fundem trevas e fabricam luzes.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Tributo á memória do mestre Edward Leão

Comentário


A leitura do soneto “Velha Estrada” faz-nos acreditar ter o mestre o composto em um momento de melancolia, desilusão e decepção. Ou, quem sabe, trata-se de meras imagens poéticas? “ Minha alma é velha estrada esburacada cheia de sulcos longos e profundos.” Lamenta que “nem o tropel dos sonhos vagabundos” já não está presente nessa estrada como ocorria em “ tempos idos, prósperos, fecundos”. É o que costuma acontecer às pessoas.
Reconhece que “há uma vegetação que sempre nasce sobre os caminhos velhos, esquecidos, para cobrir-lhe a hedionda face”. Concluindo, quão triste é a uma alma assim se expor, “de escombros nus, patentes e despidos, na exaltação inglória da vergonha.”

JGL


VELHA ESTRADA


Minha alma é velha estrada esburacada,
cheia de sulcos longos e profundos,
- caminho que conduz a ignotos mundos
perdidos na distância ilimitada -

alma deserta e só . . . silêncio e nada . . .
nem o tropel dos sonhos vagabundos
que em tempos idos, prósperos, fecundos,
galopavam garbosos nessa estrada . . .

Há uma vegetação que sempre nasce
sobre os caminhos velhos, esquecidos,
para cobrir-lhe a hedionda face.

Mas, é triste que uma alma assim se exponha,
de escombros nus, patentes e despidos,
na exaltação inglória da vergonha .

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Tributo á memória do mestre Edward Leão

Comentário

"Miragem Desfeita” é um retrato de vida. Pode ser uma auto – análise. Pode também ser devaneios do poeta. A sua leitura, contudo, faz-nos meditar e leva-nos à individualização.

JGL


MIRAGEM DESFEITA


Visionário que fui : quantas quimeras
Alimentei nos tempos de menino !
Grandezas, glórias, luxo peregrino,
Fausto sem par sonhei naquelas eras.

Depois cresci; floridas primaveras
nutriram de perfume o meu destino.
Fui um eleito, um ser semidivino,
Um singrador de altíssimas esferas.

Passou-se o tempo. Agora envelhecendo,
Meu grande sonho vai-se dissolvendo
de minha alma aos íntimos refolhos . . .

E o meu castelo ideal de tantos anos
vai-se diluindo ao sol dos desenganos
e se desfaz em lágrimas nos olhos.