sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Tributo á memória do mestre Edward Leão

Comentário

“Vida Dolorosa” conta uma vida sofrida na qual o destino alterna, em crises de delírio, um duplo papel de arcanjo e de sicário. Paladar de abutre, cuja felicidade se nutre na chaga luminosa, astral do seu tormento.

JGL

VIDA DOLOROSA

A minha vida é um belo, esplêndido martírio,
risonha sucessão de cruzes num calvário,
gotas de sangue e suor nas pétalas de um lírio,
clarão de apoteose em fúnebre cenário . . .

Como se fosse um rei, um soberano assírio,
Sardanapalo (1) alegre e sanguinário,
o meu destino alterna, em crises de delírio,
o seu duplo papel de arcanjo e de sicário . . .

Nas transfigurações constantes desta vida,
Sinto-me mais feliz com a alma dolorida,
em pranto, a soluçar, no longo sofrimento . . .

E, como se tivesse o paladar do abutre,
minha felicidade esdrúxula se nutre
na chaga luminosa, astral, do meu tormento.



(1) - Sardanapalo - personagem lendária, que a tradição clássica faz rei da Assíria de 836 a 817 a. J.C. e último descendente da fabulosa Semiramis (rainha lendária da Assíria e de Babilônia, a quem é atribuída a fundação dos jardins suspensos e que excedeu em glória o próprio rei, seu marido). Sardanapalo é o tipo do príncipe devasso, covarde, efeminando, mas esse tipo nada tem de autêntico.

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