COMENTÁRIO
Com muita satisfação apresentamos para deleite dos cultos leitores mais uma bela página do grande Gonçalves da Costa.
José Geraldo Leal
Rua Rufino Rocha – 64
35350 000 -Raul Soares (MG)
EXERCÍCIO
A moça da estrada - sonâmbula dos cabelos virgens - caminha de mãos estendidas, e sobre elas pousam aves de luz, egressas da madrugada. Os ventos selvagens se contêm, nos limites da morte, e o momento ficou parado, encolhido nos recessos das rosas. As mãos têm leveza de séculos e o espaço, perfurado, deixa escorrer nitrogênio misturado com sentimentalismo. A imaginação se enrola num capuz de linho, porque são vedados exercícios de vôo, enquanto mensageiros conversam com as águas, em pensamento, para que não façam barulho nas pedras. Quem trouxe o dia para surpresa da sonâmbula ? Quem a transformou em mistério e a fez volátil, sorriso e miragem, decepcionando os peregrinos ? Tristezas escorrem pelo chão, vão misturar-se com as ervas pisadas, porque rastros nervosos procuram a bela sonâmbula, por céus e terras a procuram.
Busquêmo-la, sim, ó peregrinos, guiemo-nos pelas estradas mortas, soltemos no espaço a nossa matilha de interrogações ofegantes ! As flores e os frutos sorriem de nós porque certamente a estão vendo, ela continua de mãos estendidas, procurando os caminhos que conduzem ao coração . . . Sigamos, contritos mas intrépidos, deixemos para trás as pirâmides do desalento, as planícies do cotidiano, os vales do talvez . . . Os perfumes iluminados dela, a moça da estrada, a sonâmbula, nos levarão ao coração que ela procura, ao fundo do coração, ó peregrinos deliciosamente loucos ! . . .
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