sábado, 5 de abril de 2008

Tributo á memória do mestre Edward Leão

Comentário

A melancolia, a nostalgia são fermentos que fazem crescer e extravasar a sensibilidade do poeta.
Em “Pau de Sebo”, o Prof. Edward Leão, lembra um tempo de sonhos “de uma alegria simples, leve e pura”.

JGL



PAU DE SEBO

Era noite de festa em minha terra.
(Quanta saudade esta lembrança encerra !)
regurgitava alegre a velha praça
risonha e iluminada. A populaça
tinha risos no olhar e no semblante,
ostentando um prazer contagiante,
uma alegria simples, leve e pura
como uma onda suave de ternura
que passasse envolvendo os corações.

As crianças em alegres explosões
de entusiasmo infantil tomavam parte
Naquela festa em que faltava a arte
mas sobrava a alegria. Naquela idade,
pondo no movimento a agilidade
e a força elástica do corpo, era
como se fossem sóis de primavera
ou andorinhas loucas a brincar
na placidez balsâmica do ar.
As atenções eram voltadas, creio,
para um mimoso, esplêndido torneio
de destreza infantil. Saltos, corridas,
estranhas e magníficas partidas
em que se disputava a primazia,
numa renhida e cálida porfia . . .

De repente, porém, a multidão
volta a sua volúvel atenção
para uma vertical, esguia estaca,
que no centro da praça se destaca,
tendo na ponta um prêmio sedutor
a tremular dos ventos ao sabor.
É o pau de sebo: dizem. E, de fato,
aquele poste até agora intacto,
com o aspecto viscoso e reluzente
de monstruosa, elástica serpente,
tem a polida superfície untada.


Começa agora a íngreme escalada.
Vários meninos ágeis, adestrados,
Ao poste liso, unidos, abraçados,
tentam subir à ponta inacessível,
ganhar o prêmio, próximo, visível,
que, como um lenço baloiçando ao vento,
parece dar-lhes ânimo e alento.

Quanto tempo perdido em tentativas !
Quanta vez, sob aclamações festivas,
algum deles chegou perto do fim,
sentiu ao seu alcance o galarim
porque lutava . . . Era o mais forte,
mais ágil, mais veloz ou de mais sorte :
Todos diziam, mas eis que desliza,
volta ao solo e, de novo, pisa.
Outro sobe na frente, glorioso.
Esse será talvez vitorioso . . .
Mas, o mesmo destino já o espera.
E o prêmio será sempre uma quimera,
encantadora, esplêndida, doirada,
ao ambicioso olhar da petizada . . .

Nós vivemos brincando de crianças
No pau de sebo - poste de esperanças
com a felicidade lá na ponta -
e tentamos subir vezes sem conta ,
doidos buscando essa ilusão falaz,mas deslizamos sempre para traz . . .

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