sexta-feira, 13 de junho de 2008

Tributo á memória do mestre Edward Leão

Comentário


O cinqüentenário sempre mexe com o emocional das pessoas.
Começo do fim, dizem os mais céticos.
Com o avanço da ciência, outra é a perspectiva.
O cinqüentenário pode ser considerado o marco de uma fase das mais produtivas e realizadoras do homem; com fundamentos sólidos calcados na experiência e conhecimentos acumulados.
Provavelmente, neste século, o estigma dos cinqüenta ceda espaço para os cem nas preocupações existenciais humanas.
O mestre Edward Leão em dois sonetos - “Crepúsculo” e “Velho Poeta” - se ocupou do assunto, com a maestria habitual .

JGL

CREPÚSCULO

Aproxima-se o meu cinqüentenário,
como um imperativo da existência:
Traz na boca o sorriso de clemência
de um patriarca valetudinário.

Durante a vida, em cada aniversário,
desde a fronteira azul da adolescência,
guardei moedas de reminiscência
do coração no humilde relicário.

E permutando os sonhos por lembranças
fui-me despindo, aos poucos, de esperanças,
sabendo envelhecer como uma planta.

Porque o segredo da felicidade
é transformar o sol da mocidade
em noite de luar tranqüila e santa.

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VELHO POETA

Alma de luz banhada intensamente,
boiando à flor das águas do destino,
o velho poeta é quase um inocente
na ingenuidade eterna de menino.

E, novo Homero ancião, cego e divino,
tange as cordas da lira e a toda gente
leva o clamor de um canto peregrino
- Velha cigarra sempre adolescente –

Na sucessão de albores e negrume,
de sombras e auroras boreais,
seu coração é um frasco de perfumes,

sempre aberto a espalhar na imensidade
os aromas eternos, imortais,
- Velho incensório azul da Humanidade -

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