sexta-feira, 23 de maio de 2008

Tributo á memória do mestre Edward Leão

A explosão da Natureza - presente na primavera - a estação mais bela do ano, é cantada em prosa e verso. Em o poema “A PRIMAVERA” o poeta confronta a “humana mocidade” e o despertar da Natureza para concluir pela harmonia com “hinos de glória à Vida e à Mocidade”. É uma composição com muitas estrofes, ao estilo das Escolas Provençal e Palaciana ou Espanhola.

JGL

A PRIMAVERA


Numa noite de festas e esplendores,
em turbilhões de luzes e de cores,
uma jovem de exótica beleza
viu surgir de uma alfombra a Natureza,
vestida de estrelas e de rosas,
que, vindo de regiões misteriosas,
como uma nova e esplêndida Belkis,
por um capricho, aquela noite, quis
mostrar ao mundo a sua majestade
e encher de inveja a humana mocidade,
que se dizia irmã da primavera,
eternizando uma infantil quimera.

E a deusa augusta, soberana e altiva,
diante da moça palpitante e viva,
assumindo uma olímpica atitude,
falou : - mulher, a tua juventude
é claridade efêmera e fugaz.
É um castelo de cartas; se desfaz,
transformando-se em tristes desenganos
Ao sopro vil dos dias e dos anos.
A Primavera volta, e as flores são
milagre eterno de renovação.
A tua mocidade vai-se embora
e dura sob o espaço de uma hora.
Estremeceram frondes nas áleas.
Ouviram-se zumbidos nas colmeias.
Encheram-se os espaços de chilreios
da Natureza aos trêmulos anseios.

Diante da deusa a jovem se levanta,
dando a palavra ao coração que canta.
Despindo a timidez, fala à Rainha:
- Sou moça e bela e a Natureza é minha.
Tenho ilusões que são o meu tesouro.
Tenho sonhos que valem todo o ouro,
toda a riqueza imensa do Universo.
Tenho a poesia na alma e, em cada verso,
palpitam mundos, resplandecem astros.
Piso de leve a terra e nos meus rastros
brotam flores, cintilam colibris . . .
eu não te invejo, ó deusa, eu sou feliz!
Se a vida não é mais que uma quimera,
a mocidade é mais que a primavera.

Diluíram-se no espaço acordes de harpas.
Vibraram harmonias nas escarpas.
E o som e a luz, tremendo de emoção,
mandaram que as estrelas, na amplidão,
Cantassem, em soberba majestade,
hinos de glória à ida e à Mocidade.

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