quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Um incidente eleitoral

EMBATE POLÍTICO JUSTIFICA ?


Já entrado em anos, Antunes vivia sozinho em uma casinha suburbana daquela cidadezinha tranquila e pacata.
Participava intensamente da vida social, política e religiosa. Era de muita valia a sua ajuda ao operoso vigário Emanuel nas muitas obras sociais que se estendiam por todo o município de extensão territorial enorme. Imbuído do espírito de Ozanam constituía-se na viga mestra da obra vicentina : construção e reforma de casas para os pobres; ajuda alimentar com a distribuição de cestas básicas; medicamentos, leite e assistência médica, contando para isso, com o espírito cristão e solidariedade humana do médico Orozimbo Vieira Marques de Souza , que segundo se dizia descendia de família nobre.
Antunes estava umbilicalmente ligado ao chefe político Macedo participando do diretório municipal da agremiação presidida pelo amigo e com forte presença nas campanhas eleitorais. Apesar de muitas tentativas jamais se elegera para qualquer cargo público o que o deixava muito frustrado e revoltado. A sua não-eleição causava até estranheza por se tratar de um cidadão probo e muito prestimoso, principalmente para os segmentos menos favorecidos da população. A explicação, para alguns, estaria na sua incontinência, irreverência verbal e espírito explosivo. Pensava em voz alta e as suas maledicências certamente repercutiam junto ao eleitorado. Falava tanto que acabava por magoar profundamente até aos seus mais próximos amigos e companheiros. Verdade deve ser dita era um homem íntegro, a sua palavra tinha maior valor que qualquer documento com firma reconhecida e registrado em cartório, com avalistas e tudo.
A cidade festejara, recentemente, a posse de um novo Juiz de Direito, cidadão muito educado e de cultura invulgar Estava-se em um ano eleitoral razão porque o Tribunal Eleitoral atendeu com presteza a solicitação de um juiz feita pelo prefeito municipal que desejava eleições com absoluta normalidade. A verdade é que a cidadezinha pacata se transformava por ocasião de eleições, principalmente as municipais. Os ânimos se exaltavam e desentendimentos ocorriam até entre amigos e parentes gerando muitas vezes conflitos incontroláveis.
Antunes, homem de poucas letras, havia sido designado para representar sua grei partidária perante a Justiça Eleitoral pelo seu desembaraço no trato com as pessoas e, até quem sabe, pela fama de não levar desaforo para casa. A indicação foi considerada por alguns dos correligionários muito temerária atentando-se para o fato de que até os mais doutos encontravam dificuldades na correta interpretação das leis e normas eleitorais. O que se dizer, então, de um pobre homem semi-analfabeto.
Aquele dia um apaixonado cabo eleitoral levou a Antunes algumas fofocas solicitando-lhe providências imediatas junto ao juiz. Na ótica do cabo eleitoral , o seu partido estaria sendo prejudicado.
Antunes, no seu habitual estabanamento, saiu à procura do Juiz. Reclamou muito, em altos brados, ao ser informado que deveria esperar já que o meritíssimo estava presidindo uma audiência. Concluída esta o juiz, paciente e educadamente, passou a ouvir as queixas de Antunes.
Ao término da exposição disse-lhe que sua reclamação não procedia. À luz das leis e normas eleitorais vigentes não havia quaisquer infração que justificasse medidas punitivas ou coercitivas às ações desenvolvidas pelos adversários do seu partido.
Antunes, não aceitou a decisão do juiz e se pôs a falar muito exaltado, bem ao seu estilo desequilibrado emocionalmente. O juiz, então, energicamente, para dar um fim ao diálogo que se tornava bastante desagradável, chamou a atenção de Antunes, advertindo-o : - Senhor Antunes, veja bem a diferença que nos separa. Antunes, deu um passo atrás, olhou para o juiz de alta a baixo, e retrucou:: - Um metro, Doutor ! . . .

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