domingo, 24 de julho de 2011

Gonçalves da Costa

Comentário

Os versos no poema “FUGA” mostram a força e a expressão das palavras do poeta aliados à sua capacidade narrativa a prender o leitor até a última estrofe.

José Geraldo Leal
Rua Rufino Rocha - 64
35350 -000 - Raul Soares (MG)


FUGA

Correrias . Burburinho
O atropelo é um cão que ladra . . .
Vai o troveiro a caminho,
Conduzindo a sua quadra.

Quem pode seguir tranqüilo ?
Pelos campos lavra insânia,
Semeando seres do Nilo,
Semeando tigres da Hircânia . . .

De blocos de fantasia
Construamos a muralha,
Entre apelos de agonia:
- “ Deus nos valha! . . . Deus nos
valha ! . . . “

Gloriosas aves felizes !
Ao solo deixam a sombra,
Seguem claras diretrizes
Onde as nuvens são alfombra . . .

Alheemo-nos da terra,
Que é torvelinho de brasas,
Ouçamos o canto que era,
- a ladainha das asas . . .


A hora convulsa que passa,
É uma insensata, uma louca . . .
Enche de vozes a praça,
Carrega punhais na boca . . .

Olhar somente o passado
E o porvir, como o deus Jano . . .
O presente, desvairado,
Esmaga no abraço insano . . .

O caminho dos delírios
Se estende a plagas remotas :
No passado dormem lírios,
No porvir cintilam rotas . . .

Se o olhar volver ao presente,
Deixemos que o incêndio explua . . .
Só pôr momentos, somente,
A fumaça esconde a lua.

Abre-se o céu, claro e franco.
Nas estrelas em desmaio,
Nos vemos virgens de branco
Nas festas do mês de Maio.

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