segunda-feira, 25 de julho de 2011

Gonçalves da Costa

Comentário

Na 3ª edição refundida e ampliada sobre a literatura luso – brasileira, elaborada pelo Prof. Francisco da Silveira Bueno, encontramos uma competente apreciação sobre a Escola Simbolista : “ Uma relação contra a frieza e o artificialismo da escola parnasiana e, por isso, predomina exclusivamente na poesia. A razão nada tem que fazer com as musas. Só a sensibilidade lhes pertence. Nada deve ser dito claramente, de maneira direta, a descoberto. Tudo deve ser dito pelo meio de maneira vaga, indefinida, indeterminada, para que o leitor advinhe o resto, complete o quadro imaginado, componha a cena que não foi senão esboçada, recorrendo à sua sensibilidade. As onomatopéias têm grande influência nesta escola penumbrosa e sombria. O sonho vale mais do que a realidade, diziam os simbolistas e tudo há de ser apresentado sob figuras, simbolicamente. Desta penumbra, destas sombras e meias – tintas da escola simbolista fácil foi passarem os poetas ao misticismo, não como a Igreja o considera, mas, no sentido de alheamento das coisas da terra, duma esparsa bondade em tudo, dum sentimento de aniquilação do poeta que deseja desprender-se das preocupações materialistas para elevar-se a uma região mais pura, que ele próprio não sabe o que seja.”
O poema “REFLEXO” de Gonçalves da Costa, a seguir transcrita, está impregnado da influência simbolista e mística que em Minas Gerais teve como estrela maior Alphonsus de Guimaraens, que nasceu em Ouro Preto a 24 de julho de 1873 e faleceu em Mariana a 15 de julho de 1921.

José Geraldo Leal
Rua Rufino Rocha - 64
35350 - 000 - Raul Soares (MG)


REFLEXO

Santas mãos de Madalena
sobre a amargura do forte . . .
Uma alvorada serena,
vozes que afastam a morte.

Os pés mergulham no ermo,
A alma sentiu-se perdida.
Veio o crepúsculo enfermo,
sem que houvesse despedida . . .

O passado sempre volta,
no seu vestido de espelhos . . .
Planta e rastro, mútua escolta,
Os abnegados, de joelhos . . .


Rosais de embevecimento
Tornavam a área infinita.
Hoje, o limite nevoento
É como um olho que fita.

Eis a dupla feita de almas,
Tênue cântico a entretê-la . . .
Transpõe alamedas calmas,
À luz mortiça da estrela.

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