domingo, 24 de julho de 2011

Gonçalves da Costa

Comentário

Críticos desvairados costumam considerar a poesia uma expressão menor da intelectualidade.
Ledo e crasso engano.
Em verdade o poeta é um dotado de muita sensibilidade e competência. Em poucas estrofes consegue passar ao leitor seu estado d’alma e suas emoções.
Sabe bem trabalhar as palavras.
Concisão e precisão são seus grandes atributos.
Um poeta - quase sempre - é um bom escritor em prosa.
A reciproca nem sempre é verdadeira.
Gonçalves da Costa foi notável: em prosa e em versos.
O nosso poeta foi influenciada pelas escolas parnasiana e simbolista, o que também aconteceu com o Prof. Edward Leão, outro grande poeta de Raul Soares.
A escola simbolista foi algumas vezes considerada confusa, ininteligível.
Os seus mais ácidos críticos, porém, reconheciam-na como muito sonora e muita harmoniosa aos ouvidos.
Ao poeta simbolista é facultado criar a sua língua própria dando aos vocábulos as significações que melhor lhe pareça.
A partir desta edição, vamos transcrever algumas das obras em versos de Gonçalves da Costa, para deleite de nossos cultos leitores.

José Geraldo Leal
Rua Rufino Rocha - 64
35350-000-Raul Soares (MG)


HÚMUS

Uma vaca malhada vem roendo
a erva que se estende pelos dias . . .
Pousam-lhe sobre o dorso o Belo e o Horrendo
- duas aves extremas, erradias

O amor selvagem, os despenhadeiros.
Entre as flores do céu, Taurus se esquece,
e a noite ergue os acordes derradeiros
para o espírito virgem que amanhece.

Cai, gota a gota, o leite confortante,
sobre a paisagem lírica, e o instante,
somente a rosa em cismas o descreve.

E os anjos, que o olhar não vê, nem sente,
sobrevoam os círculos da mente . . .
são uma nuvem leve, muito leve . . .

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P R O C U R A

Vazia, se avizinha a madrugada.
Como num caos, sinto a cabeça oca . . .
Há uma febre, há uma voz estrangulada
que se perde chamando a virgem louca . . .


Como um fantasma, espera a fugitiva
que se some por entre véus escuros,
e a minha angústia é como tocha viva
resplandecendo sobre os altos muros . . .


Cavalgando dragões, sinto corsários
cruzando-se na treva, extraordinários,
ajudam-me a buscar, pelas esferas,

A virgem louca, a triste, a evanescente,
a que na noite vem, furtivamente,
do continente astral das primaveras . . .

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