domingo, 24 de julho de 2011

Gonçalves da Costa

Comentário

O JORNAL DO POVO, de Ponte Nova, fundado pelo jornalista Aníbal Lopes, foi por muitas décadas um incentivador das manifestações culturais de nossa região. Gonçalves da Costa esteve presente, nas páginas do referido jornal, em muitas das suas edições. Em 30 de abril de 1980, festejou o 47º aniversário do jornal com a página “APARAS”.
Neméia, referida no texto, é a pequena região da Argolida (região montanhosa da antigas Grécia ao N. E. de Peloponeso; cap. Argos), que o leão depois morto por Hércules, devastava.

José Geraldo Leal
Rua Rufino Rocha- 64
35350-000 - Raul Soaes (MG)

APARAS

Pela quadragésima sétima vez o JORNAL DO POVO atinge o marco natalício, e o Tempo, numa vênia cavalheiresca e larga, estende o braço dando-lhe passagem.
Veículo de comunicação e cultura, de alma ereta e sadia, que segue atento, fiel ao seu postulado da primeira hora, sempre aberto em linhas demonstrativas, constitui um axioma, rodeado de admiração. Realidade autêntica, dentro da paisagem humana, dá-nos também a ousada impressão de uma aragem de carne viva, que vai livre pelas ruas, pelas clareiras, colhendo e levando, indiferentemente, exalações de opulências e misérias, para o conhecimento público, para a devida apreciação e julgamento. Aragem, sim, de asas expansivas, parte em seu vôo periódico, vai além dos limites do próprio berço, de rincão em rincão, como fazem pássaros, viajores bêbedos de distâncias, nuvens, caminhos inscritos no chão e abertos ao passo das grandes arremetidas . . .
E o JORNAL DO POVO não se veste de sensacionalismo da imprensa marron, que sai enforcando desesperados pela cintura, que sai apregoando a ressurreição de Hércules, a afogar, agora, num copo de leite o leão de Neméia . . . Capta os fatos, passa-os por um crivo sereno, depura-os com honestidade, para expô-los às vistas alheias. E tal norteamento se observa, também, quando se trata de difundir ou patrocinar qualquer medida de vulto, ou de interesse público. É sempre portador de títulos dignos de fé. E é de louvar-se, ainda, a sua acolhida à literatura : sempre existe algum espaço aberto para aqueles que querem expor as suas tentativas, bem como para os veteranos das letras . . . Sempre nos integramos na avalanche daqueles que, pelo menos através de algumas linhas, vão levar sua palavra de amizade e reconhecimento ao JORNAL DO POVO. Sempre reunida, a equipe incansável e sonhadora, verdadeiro conjunto harmônico, se acha a postos para a recepção e o acolhedor abraço, tocado de magnetismos; ao centro, em moldura de ideal, sente-se a figura cintilante e rediviva do saudoso Aníbal Lopes, a quem se referiu José Lopes, nas belas linhas de saudade estampadas no frontispício do JORNAL DO POVO, em seu número 874, há 32 anos : - “Parece que o estamos vendo a receber os abraços e os aplausos. Bem que ele os merece. Olhem a sua fisionomia. Há como que uma transfiguração. Todo o seu ser braceja num verdadeiro oceano de contentamento. Até transborda, já que não cabe em si”.
Parabéns, felicidades, à equipe amiga do JORNAL DO POVO, nesta data, junto ao limiar de mais um ano de lutas e vitórias.

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Quando a alma voeja entre pétalas de solidão, em recinto santificante, suas asas tocam as da Poesia, e do contato mágico emergem mundos, panoramas, novas asas, aparecem figuras de acalanto com as mãos estendidas para enxugarem lágrimas . . . A alma se estrela de pupilas onividentes, vê-se lançada num oceano de beatitudes. Surgem as paisagens que cintilam além dos limites da morte, onde formigam seres que não morrem, imunes à insensibilidade avassalante das leis naturais, - dessa tessitura inflexível a que se acham acorrentadas as misérias humanas.
A tangibilidade das formas desaparece, cedendo lugar a vozes intraduzíveis, que se advinham de éter, porém contendo em sua aura a angústia de pétalas feridas, auroras de punhos redentores apagando noites, as dimensões universais dos êxtases que coroam as culminâncias . . .
Corsários de fogo assaltam a sensibilidade, e se transformam em hinos, que se estrelam como barcos pelo grande oceano. As mãos perdidas se movimentam, pirâmides ruem, animais ferozes se ajoelham, peçonhas letais se tornam aromas . . . A luz, que delira e que inocula delírios, sublima-se, adquire força, condensa-se em céu; e então a alma, mergulhada em clarões supremos, sente sufocar-se, floresce o apelo dos apelos . . . . Vem então o suor sangrento do Cristo no Horto, as quedas dolorosas, os cravos, e travoso cálice . . . e tudo, sob um murmúrio de pedra, sem som e sem palavras, vem conduzindo a escada de seda para a ressurreição . . .

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