segunda-feira, 25 de julho de 2011

Gonçalves da Costa

Comentário


Em um poema, a que deu o título de “Cântico”, Gonçalves da Costa, um poeta erudito, faz referencia à “sombra de Circe” e ás “vestes de Nostradamus”.
Circe é a célebre feiticeira, a quem Homero atribuiu grande papel na sua Odisséia. Ulysses desembarca na ilha em que Circe habita, e esta, para o reter junto de si, faz que os companheiros do herói bebam um licor encantado, que os transforma em porcos.
Nostradamus, célebre astrólogo e medico, que nasceu em 1503 e faleceu em 1566, muito conhecido pelas suas profecias. No livro de Nostradamus, segundo os seus estudiosos, estão devidamente contemplados todos os acontecimentos importantes para a humanidade, passados e futuros.

José Geraldo Leal
Rua Rufino Rocha - 64
35350 000 - Raul Soares (MG)


CÂNTICO

A hora é o imortal continente
sem relógios, sem fronteira,
tudo nada imanente
nas magnitudes rasteiras . . .

Mundo disforme, impreciso,
o vulto da hercúlea rocha
- fria visão de um sorriso
que há milênios desabrocha.

Lousas, vozes, pergaminhos,
ó mensageiros eternos,
povoadores de caminhos,
entre flores e entre infernos !

A voz real que ergueu salmos
se manifesta nos ventos,
sobre os mesmos dias calmos
e os mesmos dias violentos.

Eis, além, quase a sumir-se,
um vulto por entre os ramos . . .
Talvez a sombra de Circe,
nas vestes de Nostradamus.

Indagações, olhos frios,
buscam a face do morto.
quantos mares ! Quantos rios !
Onde achar o último porto ?
Fica, na mente, a loucura,
colhendo a rosa do encanto . . .
Bendito esse mal sem cura,
que em tudo faz ver um santo !

A Amada é um lírio? um espinho ?
Dizei-me, lábios de pedra,
pois plantada em torvelinho,
a haste do sonho não medra.

Indômito, o olhar se altéia,
abre estradas sobre as grimpas,
e as nuvens são nívea areia,
que as plantas fendem, tão limpas . . .

Floresta de vácuos, crânios,
Genuflexórios, punhais,
tudo - fogos momentâneos,
tudo – incêndios imortais !

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